Marcelo Oxley

Bar do Nenê

Por Marcelo Oxley
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Paulo Sant'Ana, um dos maiores ícones da comunicação gaúcha do Jornalismo, já havia comentando sobre os famosos bolinhos de batata do Nenê, dentre outras especiarias, numa de suas estadas em Pelotas. Como reconhecimento, teve seu texto publicado na Zero Hora.

Pelas histórias que meu pai, alguns primos e tios me contaram, o Nenê começou com um projeto chamado Bar Americano, em parceria com um irmão, no final dos anos 80. Como o aluguel ainda não cabia em seu bolso resolveu, dessa vez sozinho, abrir um açougue no mesmo ponto que algum tempo depois viraria um dos locais mais conhecidos e badalados de Pelotas, mas agora como um saudável ponto de encontro, um bar.

Se me permitirem, gostaria de ir mais longe: lá pela década de 90, meu pai me apresentou alguns pratos daquele local situado à rua Andrades Neves, quase esquina Argolo. Eu, com meus 11, 12 anos de idade, contava os minutos para que ele me levasse, pois a Coca-Cola de garrafa e o bauru estavam garantidos, em meio ao bate-papo daquela turma divertida que ocupava sempre a mesma mesa e degustavam sempre a mesma bebida.

A tradição se estendeu e já fazia parte da rotina dos meus primos e minha antes dos treinos de futebol de salão na AABB. Solicitavamos sem nenhuma vergonha agilidade ao motorista do ônibus que nos conduzia do Areal até a avenida Bento Gonçalves, pois ainda precisávamos andar um bom trecho a pé, até chegarmos ao Nenê, que recém estava abrindo o seu boteco para mais um dia. Lhe pedir para fazer um lanche às 16h era perigoso, uma vez que era detentor de um humor todo peculiar. Às vezes éramos felizes, outras não. A tentativa era válida e na maioria das oportunidades conseguíamos o nosso objetivo. Meu pai sempre me dizia que ele não gostava daqueles clientes gritões, espalhafatosos e que se achavam melhores que os demais, assim segui suas importantes dicas e o Nenê já me chamava de "gurizinho".

A cidade de Pelotas sempre teve o poder de enaltecer e seguir com suas tradições, até hoje não é diferente. Marcas importantes nos âmbitos do entretenimento e gastronômico resistem ao tempo, suas novas tecnologias e visões de mercado. O Bar do Nenê, mesmo que já tenha atravessado algumas administrações, segue vivo com o gostinho de toda sua nostalgia. A propósito, na noite em que estive por lá pude perceber vários conhecidos da "casa", mais velhos obviamente, mas ainda muito fiéis. Sobre a mesa que meu pai ocupava algumas pessoas novas que reverenciavam o momento com plena descontração e sorrisos. Parecia que ele estava ali pedindo "mais uma" para o Nenê, que atendo observava seus clientes. Por alguns segundos aquela cena não saía dos meus pensamentos. Uma das alegrias do Sr. Antônio era conversar por alguns minutos com o Nenê em meio ao seu expediente e pedir alguns bolinhos de batata para levar para a mãe, que o esperava com certo apetite.

Hoje o Nenê também não está mais conosco, mas a Dona Marli, sua esposa, ainda nos presenteia com seus dotes culinários que viraram sensação e perduram com toda sua excelência. O bar também oferece música ao vivo; MPB, Chorinho, Samba e outros ritmos que fazem parte da noite, da boemia pelotense. Por lá também se pauta diversos assuntos e os mais polêmicos, por ora, não são debatidos para não tornar desagradável esses poucos minutos.

Agora entendo o que meu pai sempre dizia sobre preservar locais e amizades sinceras: é para que tenhamos ótimos momentos, lembranças que nos fazem melhor, estórias e histórias para contar aos nossos filhos.

Realmente a noite de Pelotas tem um "algo a mais", independentemente se você é casado(a) ou solteiro(a). Há várias opções e existem aquelas que teimam em fazer parte da nossa história por algum motivo. O Bar do Nenê é, sem dúvida, uma delas.



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